Maria Carmen Tavares Christóvão
Mestre em Gestão da Inovação e Gestora Educacional
Diretora da Pro Innovare
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Para compreender as especificidades que envolvem o entendimento sistêmico do significado da inovação, sabe-se que é necessário buscar aportes teóricos, conceituais e metodológicos em pesquisadores e metodologias científicas voltadas para elucidar o termo e sistematizar os processos de inovação.
Este artigo procura apresentar a importância da inovação social que vem ganhando impulso nos últimos anos, sobretudo com a crise econômica, que nos impulsiona a criar, a inovar socialmente para a busca de novas ocupações, oportunidades de renda, garantindo empregos e um crescimento sustentável.
Consciente que as dinâmicas da inovação possuem uma dimensão mercadológica com foco nas organizações lucrativas muito mais forte, o Brasil precisa se voltar para formulação de políticas públicas e estratégias de inovação social para alavancar negócios sociais. Portanto, um cenário desafiante para quem empreende socialmente.
Nos aportes teóricos para entender o empreendedorismo e a inovação social existem duas vertentes de conceituação, uma delas definida pelos teóricos humanistas, em que o empreendedorismo está diretamente relacionado ao comportamento humano – entre os teóricos humanistas estão Weber, McClelland, Collins, Moore, Drucker, Ray, Timmons, Filon, Dolabela e Paiva Junior. Outra linha é ligada aos economistas, como Schumpeter que conceitua empreendedorismo como sendo “o que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços pela criação de novas formas de organização e pela exploração de novos recursos e materiais”. Entre os economistas, além de Schumpeter, possuem destaque também Cantillon, Smith, Say e Knight.
Empreendimento solidários, humanistas ou economistas não possuem fundamentações excludentes, mas complementares em relação ao empreendedorismo e a inovação social. Roger L. Martin e Sally R. Osberg citam numa das edições da Harvard Business Review que o empreendimento social é capaz de tratar problemas cujo âmbito é estreito demais para instigar o ativismo legislativo ou para atrair capital privado.
Para pesquisadores e instituições que possuem uma visão mais contemporânea do assunto, o empreendedorismo e a inovação social são as habilidades de se construir uma proposta em que a responsabilidade social está no Core do negócio, mas possui fins lucrativos, é autossustentável e atuam na resolução de problemas sociais através da comercialização de serviços ou produtos, como se pode observar no quadro abaixo:
Inovação é a criação de novas realidades, afirma Plonski no artigo intitulado Inovação em transformação (PLONSKI, G.A. Inovação em transformação. Estudos Avançados 31 (90), 2017. São Paulo. Brasil). O texto explicita a característica criativa da inovação em trazer a existência algo que não havia. Para tal, precisa “ser compreendida como um conjunto estruturado de ações ou operações visando a um resultado e, portanto, a inovação é propensa a ser estimulada, promovida e gerida”. O autor ainda afirma que a inovação precisa ser objeto de desejo de todos os setores, e isso inclui o social, atendendo a anseios de cidadania, não se restringindo apenas aos setores da economia. Outro aspecto importante está voltado para o pequeno potencial que as instituições possuem para alavancar inovação através do conhecimento científico. Portanto, a produção de conhecimento, sobretudo no seguimento de serviços, a sistematização das ações e o planejamento para inovação é fundamental. A tabela abaixo apresenta a base de funcionamento da inovação e do empreendedorismo social, ou seja, como funciona.
O processo ocorre por meio da busca de oportunidades (em geral, novas ou diferentes combinações, que ninguém mais tenha percebido) e do aperfeiçoamento das mesmas em conceitos viáveis que podem ser levados adiante. Trata-se de uma questão de persuadir pessoas diferentes-capitalistas de risco, administradores e assim por diante – a optar por investir seus recursos na ideia, em vez de não investir em outra coisa. (Tidd e Bessan 2009).
Tidd e Bessan (TIDD, J. BESSANT, J. Administração e Empreendedorismo. Editora Bookman. 2009.Porto Alegre) relatam ações inovativas com grande eficácia no campo social e esse fato demonstra que é possível inovar socialmente sobretudo quando sentimos as verdadeiras dores de uma sociedade. Alguns exemplos:
- O Aravind Eye Care System considerado o maior centro de tratamento oftalmológico na Índia, onde 200 mil cirurgias de cataratas são realizadas por ano, sendo que 60% são totalmente gratuitas. A cegueira na Índia devido a catarata era uma dor social e que foi resolvida por uma ideia simples, mas inovadora. Uma excelente equipe médica, com muita experiência, tecnologia de ponta, pesquisa que atraí 40% do público pagante, não apenas da Índia. O impacto social foi enorme: a erradicação da cegueira curável em toda a população de um país.
- Muhammad Yunus, premiado com o Nobel da Paz, por haver criado o Grameen Bank oferecendo microcrédito para pessoas pobres a fim de leva-las a alcançar a autossuficiência econômica por meio do empreendedorismo social.
- Amitabha Sadangi, da International Development Enterprises (Índia) – desenvolve tecnologias de irrigação de baixo custo para ajudar a agricultura familiar a sobreviver em períodos de seca.
- Victoria Hale, do Institute for One Word Health – recorre a pesquisas farmacêuticas existentes, mas abandonadas, para trazer novos medicamentos às pessoas mais carentes no mundo.
- Willian Foote – promove um modelo mais justo e sustentável de comércio internacional para uma gama de produtos, incluindo o café.
- Gillian Caldwell, do Witness – utiliza tecnologia de vídeo e comunicações para documentar abusos com relação aos direitos humanos.
Esses são alguns dos mais de 100 empreendedores que receberam o prêmio Skoll Award for Social Entrepreneurship (Sase). Quantas iniciativas de empreendedorismo e inovação social poderiam ter saído de dentro das nossas instituições educacionais?
Acredita-se que o crescimento da inovação e do empreendedorismo social seja uma tendência resultante das inquietações de muitos empresários com vontade de mudar o mundo, inovando e criando oportunidades de negócios que tragam qualidade de vida para sociedade com uma grande geração de valor. Importante ressaltar que para a maior parte dos teóricos sobre a inovação social ela pode ser também uma ação economicamente rentável e, portanto, merecedora de aportes financeiros.
Tidd e Bessan contribuem com a organização de um processo de gerenciamento de inovações sociais. A figura demonstra que liderança e direcionamento estratégico aliados a uma organização inovadora são veículos proativos geradores, selecionadores e implementadores da inovação com a finalidade de suprir as necessidades reveladas por dores sociais.
Na atual crise econômica a inovação social possui papel preponderante, como parte de uma estratégia para trazer crescimento as áreas educacionais, de saúde e meio ambiente. O Brasil começa a se atentar para as instituições que vem gerando valor social, entre elas muitas educacionais. Premiar as pequenas iniciativas, dar visibilidade e investir pode ser um catalizador estratégico para o desenvolvimento e uma forma legítima de apostar numa sociedade mais justa e igual, gerando impacto social.
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Fontes:
PLONSKI, G.A. Inovação em transformação. Estudos Avançados 31 (90), 2017. São Paulo. Brasil;
TIDD, J. BESSANT, J. Administração e Empreendedorismo. Editora Bookman. 2009.Porto Alegre.Brasil;
———– Harvard Business Review (2018);
OECD. Governance of Innovation Systems. v.1: Synthesis report. Paris: Organisation for Economic Co-Operation and Development, 2018;
WEHLING, M. (Ed.) Principles of translational science in medicine: from bench to bedside. 2.ed. London: Academic Press, 2015.
Especialmente bom e elucidativo, além de atentar sobre a geração de oportunidades, onde o empreendedor tem de estar atento às necessidades sociais!
E a inovação institucional, como “A Instituição de Poupança Pública”? exposta no livro homônimo do Luís Fernando Azevedo Lopes.
Boa noite.gostei muito do seu artigo, pois já li livro sobre o empreendedorismo e considero um tema muito atual.E necessário. Pois trata da inovação e do empreendorismo nas instituições sociais.Objetivando estimular pesquisas para o desenvolvimento de todas as camadas da sociedade,gerando mais empregos.
Meus cumprimentos.
Sem investimento, sem Inovação! Eu,quando Analista de Qualidade Pl. na multinacional Johnson Johnson-SJC, por alta criatividade fui promovido a Pesquisador Sr.
Inovar sempre foi necessário, porém sempre muito difícil ir além das convenções sociais vigentes.
Dizem que criatividade é a habilidade necessária às pessoas do terceiro milênio.
Um dia disseram: navegar é preciso …
Hoje inovar é preciso. Parabéns cara mentora.
O artigo traz importantes subsídios para o planejamento e implementação de iniciativas inovadoras no campo do empreendedorismo social, trazendo, como resultado, a melhoria da qualidade de vida ao gerar oportunidades criativas e lucrativas de negócios.